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28/09/2018 - Logística reversa de filtros automotivos precisa superar desafios para ser mais abrangente

Filtros usados têm alto potencial poluidor e patogênico, mas as operações de recolhimento do produto no mercado pela indústria atendem apenas três estados brasileiros



Mesmo após ser deixado para escorrer, o filtro de óleo automotivo usado sempre fica com uma pequena quantidade do líquido viscoso em seu interior. Queimada, essa mistura contém muitas impurezas, como metais de desgaste do motor, aditivos não consumidos totalmente e produtos resultantes das reações químicas e físicas que acontecem com o lubrificante durante sua vida útil. Trocada regularmente nos veículos, a peça é classificada pelo Ministério do Meio Ambiente como resíduo perigoso classe 1, o que significa um alto potencial poluidor e patogênico. Representado pela Abrafiltros (Associação Brasileira de Filtros e Seus Sistemas Automotivos e Industriais), o setor produtor implementou, em 2012, o programa de logística reversa Descarte Consciente, que, em seis anos de existência, já deu destinação ambientalmente correta a 11,7 milhões de filtros no Brasil. É um número expressivo, mas apenas São Paulo, Paraná e Espírito Santos participam do sistema, que em breve também deve incluir Mato Grosso do Sul.
 
O gerente de projetos da Abrafiltros, Marco Antônio Simon, afirma que faltam regulamentação, condições logísticas e recursos financeiros para que a logística reversa se expanda ainda mais no Brasil.
 
"A instituição de um programa de logística reversa é um processo bastante complexo que vai muito além da própria reciclagem. Envolve mobilização setorial na forma de interesse de grupo, aspectos governamentais, jurídicos, logísticos, econômicos e financeiros", explica. "A devida regulamentação com estabelecimento de Acordo Setorial ou Termo de Compromisso é essencial para a logística reversa, uma vez que esses instrumentos estipulam as metas gradativas de coleta e a abrangência geográfica dos sistemas, dentro de preceitos legais reconhecidos pelas Secretarias Estaduais e pelo Ministério do Meio Ambiente, respeitando a viabilidade logística e econômica das operações."
 
Simon pontua, porém, que dificuldades não significam que falta fiscalização no descarte. "É importante ressaltar que, por se tratar de resíduo perigoso classe 1, todos os geradores, como postos de combustíveis, oficinas e redes de troca de óleo, já têm a obrigação legal de dar destinação ambientalmente correta aos materiais, que demandam tratamento diverso do lixo comum e independente do serviço público de limpeza urbana", diz. "Isso deve ocorrer independentemente da logística reversa, que inseriu a responsabilidade compartilhada e gradativa pelo descarte para toda a cadeia logística nos Estados onde há a regulamentação, que deve envolver fabricantes, importadores, comerciantes e distribuidores no processo."
 
Como funciona o processo
 
O programa Descarte Consciente disponibiliza, no ponto de geração dos filtros usados, um tambor metálico de 200 litros com saco plástico, devidamente identificado, que é específico para acondicionar as peças desde a troca até a coleta. 
 
"Esta etapa é denominada recolhimento e armazenagem temporária. A coleta dos filtros pode ser realizada por quinzena, mês, bimestre ou trimestre, dependendo da quantidade de geração no ponto de coleta", explica David Siqueira de Andrade, diretor-presidente da Química Industrial Supply, empresa responsável pela operação do programa da Abrafiltros. "Nos períodos programados, é feita a coleta e o transporte até a unidade de reciclagem e destinação dos resíduos, onde os filtros são desmontados e separados por material: óleo lubrificante usado contaminado (Oluc), metal e elemento filtrante."
 
Depois da separação, o Oluc é encaminhado ao rerrefino, os metais são devidamente descontaminados do óleo e vão para as siderúrgicas, e o elemento filtrante é destinado ao coprocessamento em fornos de cimenteiras para geração energética ou incineração.
 
Danos ao meio ambiente e à saúde 
 
"Se o filtro usado for descartado de maneira inadequada, como em aterros, o metal do filtro irá enferrujar com o tempo, e o óleo contaminado, vazar, atingindo o solo e o lençol freático. Para se ter noção da gravidade disso, um litro de óleo contamina um milhão de litros de água", alerta David Siqueira.
 
Segundo o diretor-presidente da Supply, a manipulação do lubrificante usado, sem os devidos equipamentos de proteção individual, gera problemas à pele causando dermatites ou problemas mais graves. O perigo do óleo usado é ainda maior se for queimado, pois libera dioxina e furano, duas substâncias químicas causadoras de câncer.  
 
Custos
 
O gerente de projetos da Abrafiltros, Marco Antônio Simon, afirma que a adesão ao programa Descarte Consciente facilita o processo de logística reversa e diminui seu custo para fabricantes, importadores e distribuidores, além de garantir o cumprimento da legislação.
 
"A adesão de novas empresas também proporciona o aumento dos recursos necessários à ampliação do programa, em termos de coleta e abrangência geográfica", acrescenta.
 
Nesse processo para dar a destinação correta aos filtros de óleo usados, é inevitável que o custo da logística reversa aumente o valor do produto final. "Não há como fugir dessa regra de mercado, mas em contrapartida, criam-se melhores condições para que mais produtos tenham a destinação correta após o uso em benefício do meio ambiente", conclui Simon.

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